Páginas viradas

Era fim de tarde. Cores alaranjadas manchavam o céu do Rio de Janeiro, fazendo sumir o azul pastel tão conhecido dos dias sem nuvens. Aos poucos o sol ia se pondo e muitos pareciam não se importar. E, então, eles chegaram. Ele era bem alto e bem branco - típico turista nos meses de férias, transitando pelo Rio de Janeiro -, ela não era tão branca, nem tão alta. Tinha cabelos “cor-de-por-do-sol”. As mãos dadas insinuavam um belo romance com clima de lua de mel. Os olhares intensos se cruzavam. Eles puseram-se, então, sentados frente ao mar, como se contemplassem tal maravilha celeste. Lindos carinhos trocados ao ver baixar o sol, por de trás do morro, num lindo céu - já inteiramente tomado pela cor laranja. Muitos aproveitavam o momento para a prática da fotografia, pois o cenário natural ajudava e propiciava a boa foto. Pronto, lá estavam registradas tão belas cenas. Um click, em especial, registrava também aquela cena de amor. Pena ela só ter durado até o por do sol.Já era noite e de longe, se podia ouvir o aumentar do tom de voz do casal. E ele, então, levantara. Não levantara do chão, levantara a mão em direção ao rosto da menina. Por si só conteve a tapa no ato do estalo e, depois de um profundo silêncio de olhar, ele se foi. Ela, atônita por instantes, perdera a respiração, parecia ter sido tomada por aquele congelamento das horas incautas. Uma lágrima gentil corria em seu rosto. Se podia ver a sutileza e suavidade de sua mão tentando-lhe conter. Em minutos já estava a chorar. Não carregavam alianças como prova de amor, mas pelo visto mágoas no ajuntar dos tempos. Não era uma cena de filmes de romance, era uma despedida. Era nítida a firmeza do rapaz e obvia a fragilidade da moça, que não parecia pronta pra um “adeus”. Parece até que ele não fora embora sozinho. Algo dela, ele tinha levado consigo. Algo necessário pra sobrevivência dela, tal como o ar pra respirar. Tal aparentemente frágil ela tinha ficado. Tão forte fora a situação, que até parecia que se ouviam as batidas de seu coração.
Em verdade, todo mundo já enfrentou uma despedida inesperada ou se despediu sem muitos alardes de que o faria. No seu “auto-romance-biografia” quantas páginas se teve vontade de arrancar, apagar ou reescrever? Inútil. Tais vontades aniquilariam a bagagem de soluções do resto da vida. Bagagem essa armazenada ao longo das experiências boas e ruins que se vive, onde se guarda numa mala o fruto colhido, resultado delas.Lembrando do casal... O único vestígio da passagem deles por lá era um coração desenhado a dedo na grossa areia da praia. Dentro, o coração trazia um escrito. Um belo desenho das letras “R e C”. Ao olhar sentia-se a emoção do ato de escrever; tal qual a dor da despedida.
E assim é a vida: encontros e despedidas. Páginas e mais páginas escritas. Páginas felizes que são e exibidas e outras que seria melhor que fossem apagadas. Mas tal qual o casal as páginas de todos os livros, de todas as pessoas estão cheias de nomes; são pessoas que habitam os dias passados e habitarão ainda os dias por vir. Algumas vezes por conta dessas pessoas você terá vontade de virar logo a página e em outras vezes pessoas irão querer virar a página por causa de você.
Como os poetas sempre têm as palavras: “Enquanto o tempo passa, eu viro as páginas. Também sou página virada.”


Raffael Silva
4 Responses
  1. Letícia Says:

    Eu gostei à beça do texto....
    Acho que vc tá virando um bom contador de histórias....

    Ps.: o seu recado no meu blog.... foi realmente qze um post...rsrsrs
    Mas eu amei....

    Beijos, imensos marido!


  2. A vida tem o seu jeito secreto de arrumar as coisas e de baguncá-las também. Falta-nos somente entender essa química e, às vezes, ter a ciência de que não somos o centro do mundo e, com humildade, perceber que não temos as forças do universo em nossas mãos.
    Neste percurso, alguns preferem ir até o fim. Outros tornam suas vidas verdadeiros círculos sem fim. E outros ainda param na metada do percurso. Cabe-nos a árdua tarefa de "bordar" nossa vida. Passarão dias inteiros... mas como dizia minha avó: Se, quando criança, você ouviu boas histórias, saberá, certamente, qual livro escolher, mesmo que tenha diante de si uma estante repleta de livros...

    Um abraço fraterno..


  3. Unknown Says:

    Tem páginas que agente nem percebe que virou...

    De outras nem tomamos conciência que não estão mais abertas.

    Só se chega ao final de um livro virando as páginas e com certeza a satisfação de ler se dá não só pelo final da obra, mas pelo que ficou conosco dos tantos capítulos lidos!

    Amo mesmo você!

    Ps.: "não faço pra te aborreçer, nem eu me entendo direito. meu jeito não dá pra prever. as vezes dá defeito..."


  4. Geisa Says:

    Na vida precisamos passar as páginas..é dessa forma que se vive a vida!!!
    Te amo