"Auto-romance-biografia"


Hoje o dia me acordou de forma diferente. A incerteza da data confundia a mente. Roupas do dia anterior ou soneca no meio do dia - daquelas perturbadoras, que desnorteiam? Alguns segundos e as coisas vão tentando encaixar-se: computador ligado, biscoito aberto sobre a cadeira do PC, as mesmas roupas... Num instante; o pulo da cama. No computador a hora marcava 10:03 , um giro com o mouse até o calendário e a descoberta: dia 11 de agosto de 2009.
Como previsto anteriormente, o sono atribulara a noite anterior. No despertar, a falta da lembrança de como se foi parar na cama; um rápido café da manhã regado aos biscoitos estocados, como que suprimento alimentar para um mês inteiro de férias, e um filme pra distrair. Umas risadas, umas saudades, umas dúvidas, curiosidades - o filme de fato intrigava e trazia muitas lembranças do passado -, mas risadas e no fim - quase que como em todo filme - um choro contido, um coração apertado e o assunto difícil de ser tratado repetido e explanado. O que diferenciava era a sutil realidade cotidiana tratada por esse: as idas e vindas das pessoas que se relacionam, se esquecem e um dia saudosas novamente se esbarram. E - mais que um diferencial qualquer, pra um filme de amor - uma possível dor do “medo de amar”, ficou na lágrima que descia pelo rosto ao término do cineminha solitário em casa.
Num esforço da mente rostos já esquecidos; histórias escritas nos primeiros capítulos da adolescência, páginas há muito não habitadas; um punhado de novidades; outros rostos; ausência de nomes e muita coisa pra se pensar...
Se de todas as vezes que nos permitimos relacionar com alguém, na busca ou não de ter respostas positivas, o fazemos de fato: porque existem dias que não temos companhia para assistir se quer a um filme em casa?
Uma vez, ao ver outro filme, tinha parado para pensar num texto que deveria ter deixado muita gente louca quando a atriz o encenou dizendo: “Ninguém diz que o sonho de sua vida é ser uma laranja inteira...”. Curiosamente na época pude debater tal assunto com companheiros de trabalho que concordavam comigo, após terem também visto o filme. E um deles lançou uma frase conhecida que diz que o problema não é planejar coisas maravilhosas ao lado de quem se ama; e sim, que o problema consiste em ter amor por alguém que não tem sonhos.
Acho que era só mais um dia de nuvens nas férias... O problema é que dias assim fazem parar pra pensar.
Tantas histórias reviradas em capítulos não terminados habitam os livros das nossas histórias pessoais. Tantas metades trocadas de laranjas mancham com seus sucos nosso “Auto-romance-biografia”. E quantas possíveis páginas ainda têm pra escrever...
As coisas tornam-se engraçadas ao ponto que nos desprendemos da capacidade de torná-las sérias. A quase certeza de irrealidade nos faz crer na comédia dos fatos, e nossas risadas tornam-se deboche das nossas próprias histórias.
Uma pausa: banhar-se se fazia necessidade. Temperatura ideal? Água bem quente. Na fumaça, quase que como miragem vista no deserto, toda história do filme se mistura com a sua. Como aquelas músicas que não saem da cabeça e que fazem lembrar alguém, “Três vezes amor” trouxe três realidades de passados diferentes; três possibilidades de ter sido uma laranja inteira; três pessoas que sonham sim, mas que não te incluem nesses sonhos ou têm sonhos muito distintos dos seus e esses em nada se encaixam, e uma certeza: você pode ir tocar campainha de qualquer uma das três agora. Só não garanto que ela abra a porta, te abrace e que descubra que perdeu muito tempo longe de você e que agora é hora de vocês dois. Nem posso afirmar também se isso valerá à pena.
Acho melhor ir logo tomar outro banho e ver se ainda consigo assistir outro filme...
5 Responses
  1. Geisa Says:

    Tantas metades trocadas de laranjas mancham com seus sucos nosso “Auto-românce-biografia”.

    alguns filmes dizem coisas que não queremos aceitar que existem...


  2. Unknown Says:

    É....

    As vezes a dúvida paira no ar e povoa os pensamentos...

    Será que servimos para o amor? E essa é uma bela contradição...porque com todo o amor que temos dentro de nós não conseguimos alguem para compartilhar???

    Complicado à beça....

    Amo tú tatu!


  3. Tatá =) Says:

    Que linda surpresa encontrar esse espaço que é todo seu! Ler seus textos pra mim é sempre uma grande alegria. E me conforta saber que algum dia fiz parte de sua historia!
    A cada dia, recebes um lindo presente de Deus. A cada dia, ao acordar, Deus te da uma caneta e uma folha em branco. Com a caneta você pode escrever o que quiser na sua folha em branco, mais lembrando sempre que nunca se apagará, nem sempre sairá como prentendemos, mais sim como Deus nos permitir escrever!
    Te amo, mesmo distante.
    Te amo, mesmo muito ausente.
    Te amo, mesmo com nossas diferença.
    Te amo, por ser parte da minha vida, que nao posso apagar, que Deus me permitiu escrever e que faço muito gosto em ter em minha historia!


  4. Letícia Says:

    Eu to amando, esse seu espaço...
    Esses texto, tão bem aplicados....
    Eu to amando ver e viver a sua vida...
    E saber que tudo pode ser simplismente superado...

    Amo vc, marido...


  5. Unknown Says:

    Tanto orgulho do meu primo ... fico toda boba lendo seus textos.

    Amo muito tu, viu?
    Beijo enorme